Dirk Kaufmann – Domingo, 24 de setembro de 2023
Roubo do metal vem provocando prejuízo milionário e atrasos para a empresa ferroviária alemã. Matéria-prima é valiosa e atrai a cobiça de ladrões.
Além da necessidade de modernizar e ampliar sua infraestrutura, a empresa ferroviária alemã Deutsche Bahn (DB) vem precisando também enfrentar o roubo de cobre. Somente em 2022, a empresa teve prejuízo de cerca de 6,6 milhões de euros (R$ 35 milhões) com isso, segundo o jornal Handelsblatt.
De acordo com o veículo, 2.644 trens foram afetados pelo roubo de cobre em 2023, até o momento, resultando em mais de 700 horas de atrasos. E o metal não é roubado apenas da DB, mas também de edifícios particulares, torres de igrejas, fábricas de cobre e empresas de reciclagem.
O cobre é um metal com alta demanda por sua condutividade elétrica. Todos os aparelhos elétricos, de torradeiras a carros elétricos, precisam dele. Joachim Berlenbach, fundador e CEO da Earth Resource Investment (ERI) e especialista no assunto, avalia que “a demanda futura por cobre aumentará enormemente”.
Ele acrescenta: “Simplesmente não temos o suficiente dessa matéria-prima essencial. Os defensores da transição energética costumam ignorar esse fato.”
Por que o cobre é tão caro?
A oferta e a demanda influenciam o preço do cobre. Berlenbach diz que o desenvolvimento econômico de países do Sul Global é uma das razões por que seu consumo aumentará cada vez mais. O crescimento do PIB em países como a China e a Índia trará melhorias nos padrões de vida: “Vão se dirigir mais carros, comprar mais ar-condicionados, e casas serão construídas com fiação elétrica. A demanda por eletricidade e, portanto, também por cobre, aumentará muito.”
De acordo com a ERI, cerca de 700 milhões de toneladas de cobre foram extraídas do planeta na história da humanidade e “estima-se que precisaremos de aproximadamente a mesma quantidade nos próximos 30 anos”.
Ao mesmo tempo, está se tornando cada vez mais difícil encontrar jazidas de cobre para extração: “Os depósitos geológicos existentes estão concentrados em poucos países, por exemplo, no Chile e na República Democrática do Congo, onde o risco geopolítico para as empresas de mineração não é desprezível.”
Para onde vai o metal roubado?
Ao jornal Tagesspiegel, Ralf Schmitz, diretor-gerente da Associação Alemã de Comerciantes e Recicladores de Metais (VDM), disse que a receptação de metais não ferrosos roubados na Alemanha é difícil, porque quando o cobre é vendido, os dados pessoais dos parceiros comerciais são registrados. No caso de grandes roubos, outros membros da VDM são notificados, como a Polônia, que “tem um sistema tão eficiente quanto o que temos na Alemanha”.
Por isso Schmitz suspeita que os ladrões de metal preferem vender o produto de seu roubo no exterior, especialmente por a alfândega não conseguir controlar devidamente esses movimentos de mercadorias: “A maior parte do material não está mais indo para a Europa”, comentou ao Tagesspiegel. “A maior parte – é a minha teoria – vai em contêineres para o exterior.”
“Não há substituto para o cobre”
Os ladrões não estão apenas ficando mais bem organizados, mas também mais ousados. Durante a investigação de um roubo milionário na empresa metalúrgica alemã Aurubis, as autoridades confiscaram dez veículos, mais de 200 mil euros em dinheiro e várias armas de fogo e munição.
O roubo de cobre não ocorre somente na Alemanha. Joachim Berlenbach lembra que, durante sua estada em Joanesburgo, na África do Sul, “uma vez, arrancaram todas as linhas telefônicas” da rua onde ele morava.
O especialista não consegue pensar em nenhuma medida eficaz para impedir os ladrões. Por enquanto, parece improvável que o modelo de negócios dos piratas de metais não ferrosos vá mudar, pois “infelizmente não há substituto para o fio de cobre, é simplesmente um fato da física”.
Fonte: DW