São João de Ipirá

Agildo Barreto cidades Ipirá

Por Agildo Barreto

Festança mesmo foi na casa do tio deputado. O sobrinho chegou todo nos trinques, camisa com estampa xadrez, calça jeans com uns dois remendos na frente e um atrás, chapéu de palha na cabeça, soltando risos e falando aos presentes:

– Minha tia! Eu tenho mais de dez mil, bem na frente…

A tia deu um pinote e foi falando em voz alta:

– Você está sonhando acordado, meu sobrinho! Eu quero ver …

Foi interrompida pelo sobrinho:

– Por que a senhora está assustada, minha tia? Eu estava dizendo que tenho mais de dez mil espadas aí na frente da casa para patrocinar a guerra de espadas em toda a cidade e …

A tia respirou fundo, tomou fôlego e pensou ‘’distribuindo dez mil espadas ele vai conquistar muitos votos, mas a eleição é em outubro, daqui prá lá isso vai perdendo efeito.” Convidou o sobrinho para irem até a cozinha, lá chegando, pegou um bocapio e retirou de dentro, com um pouco de esforço e sacrifício, cinco milhões de um metro cada. O sobrinho tomou um susto daqueles, quase desmaiou:

– Como a senhora, minha tia, conseguiu tantos milhões e o que a senhora, minha tia, vai fazer com eles?

– Meu sobrinho, você está vendo esses cinco milhões (espiga de um metro), não está vendo? Isso é real e na real, de real mesmo, eu vou debulhar para o povo que vai tocar suas espadas.

O sobrinho pensou: “agora, foi que deu, tenho que mandar meus puxas espalharem que a prefeitura tem cem milhões nos cofres!” Pensou bem pensado, quando ia responder seu tio chegou e foi falando:

– Vamos fazer aqui a Oração de São João, família que reza unida permanece unida. É disso que vocês precisam saber. Vão prestando atenção, esse bate-boca de vocês tem que ir até outubro, depois disso é nenhuma. Na Ceia de Natal quero ver todo mundo aqui em casa e todo mundo unido e animado. Nesse dia, vou lê meu testamento e de antemão já digo, para nossa querida família, que está acima de tudo e de todos, inclusive acima de jacu e macaco, é bom que fique bem claro, a principal cláusula de meu testamento é que vou deixar uma prefeitura para ser governada por vinte anos por nossa família e eu quero está bem vivo para ver isto acontecer.

A tia e o sobrinho foram pular fogueira, com aquela animação. Era a dança de comadre com compadre. A coisa estava tão animada, que não deixava a menor dúvida: essa foi a dança vencedora do São João de nossa terra.

Tão vencedora que perdurará até o mês de outubro na viseira do povo, com a tia e o sobrinho querendo ficar falados na boca e na língua da população, que estava acostumada com jacu e macaco e, de repente, empurraram uma espada e uma espiga goela abaixo sem pena.

Fogueira com muito fogo, foi no forró da federação. O esperto ex-prefeito Dió, querendo tirar uma de bacana, como se ninguém naquele ambiente conhecesse a sua trajetória política:

– Deputada, eu desde o tempo de academia que tenho militância na esquerda, que mantive com firmeza, de forma constante, por toda minha vida, sem arredar um pé sequer … — disse o ex-prefeito Dió.

O fogo da fogueira esquentou com as labaredas. O sociólogo Genelício Santiago não deixou barato, falou o que todos tinham que ouvir:

“Quando Waldir Pires despontou como o provável governador da Bahia, aqui em Ipirá, Diomário Sá, que andava no ninho do carlismo, armou a tomada do PMDB das nossas mãos para beneficiar o grupo de Delorme Martins…”

Está correto o sociólogo. Eu pego um tição da fogueira para aumentar as labaredas do fogo. Diomário tinha trânsito livre na cozinha do reconhecido cacique carlista Delorme Martins, que chefiava a jacuzada, quando ocorreu a grande possibilidade de derrota do carlismo na Bahia, com a eleição de Waldir Pires (que aconteceu); o jacu de carteirinha Diomário Sá tomou para si a incumbência de fazer o ‘trabalho sujo’ em benefício da jacuzada e ‘assaltou o PMDB local’ tomando-o de nossas mãos, apoiado por uma trempe de eleitores de cabresto da jacuzada. Assim foi feito.

Hoje, o PMDB (que virou MDB, de novo) não está no cardápio político de Diomário, que virou PSD. Na nossa análise, nesse emaranhado da politicagem local, Diomário Sá progrediu muito e tornou-se o grande e poderoso chefão do grupo da macacada, mas, nem por isso, tem credencial para ser o condutor da política de esquerda em Ipirá.

Não podemos teatralizar a vida pública, com atores interessados em embalar um perfil de um ilusionista falso. Qual é o grau de dissimulação? O que se foi não pode desaparecer sem ser notado, da forma que consta e foi anotado na caderneta da quitanda. Tá tudo anotado, ninguém pode esconder nada. Ninguém pode impedir que o tomem como tal qual é.

Qual é o grau de esperteza e de oportunismo? Será que o vale-tudo é o verdadeiro vale que foi deixado na quitanda? Qual é o grau de hipocrisia e insinceridade que habita aquela carapaça e tônica política?

A fogueira de São João pode servir, também, ao princípio maquiavélico: “os fins justificam os meios”. O terreiro acaba sendo o palco do teatro, do espetáculo, da encenação para dramas e comédias. Aí aparece um espertalhão cheio de recursos artificiais e muita dramatização, com muita exibição de alguns sinais, querendo ser o que não é, querendo ser o ‘doró do pedaço’. O sociólogo não deixou de graça e pagou prá ver, na medida em que, passou a régua para desmascarar o vendedor de ilusão e resgatar a verdade.

Com sinceridade. Minha intenção era votar em Jaildo do Bonfim para prefeito de Ipirá. Tem mais cara do povo do que as duas candidaturas postas. Tem mais realidade da vida do catingueiro nas costas, do que as candidaturas da oligarquia Oliveira colocadas (pelas elites e pelo esquema jacu e macaco) na vida do povo ipiraense. Infelizmente, não deu certo.

Com mais sinceridade ainda. Não tenho a menor intenção em votar em Jaildo do Bonfim para vereador. Ele pode ter sido um ótimo vereador para as regiões que representa, mas ficou devedor para regiões que não constam da sua custódia.

Com toda sinceridade. A problemática do meu voto pessoal é angustiante. Me sentirei malogrado se o vereador em quem eu votar não bater de testa no esquema das oligarquias de Ipirá. O vereador Jaildo não levantou essa bandeira. Não sendo merecedor do meu voto pessoal.

Na federação, a fogueira queima em altas labaredas. A federação fará um vereador. Tudo bem, tudo beleza! Tudo indica (não é certeza absoluta) que Jaildo será o único vereador eleito.

A matemática eleitoral é mais ou menos a seguinte: vamos supor que Jaildo tenha mil votos e que o coeficiente eleitoral fique em 2.500 votos. Para tornar-se vereador ele precisará de 1.500 votos da esquerda.

E a esquerda para fazer um vereador do PT ou PCdoB precisará de quantos votos? Depois de ter ofertado 1.500 votos (suposição) para eleger o primeiro mais votado da federação, naturalmente, precisará alcançar um coeficiente de 2.500 votos para não ficar dependendo da sobra para a última vaga.

Isso é o mais provável do que possa acontecer. Enquanto isso, a federação está preocupada com um Programa Mínimo de Governo, importante para uns, desnecessário para outros, que está cheio de assinaturas, mas não passa daquela aliança junina, da comadre e do compadre saltando um tição apagado, sabendo todos que é tudo de mentirinha.

E o meu voto para a vereança? Eis a minha grande dúvida. 

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