Estudo sugere que a morte pela doença não é determinada apenas por comorbidades ou vulnerabilidade social, mas também por fatores específicos do sexo masculino
por Redação – Domingo, 17 de julho de 2022
Arte: Simone Gomes
Dados gerados emuma pesquisa do Instituto de Estudos Avançados da USP, em conjunto com a Faculdade de Medicina da USP, apontam que o sexo masculino pode ser fator determinante nas mortes por covid-19 na cidade de São Paulo. Ao contrário do que se esperava, o estudo demonstrou que fatores de risco como a vulnerabilidade social e comorbidades não são dominantes.
O médico Thiago Afonso Teixeira, da Faculdade de Medicina da USP, falou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição que o desenvolvimento da pesquisa se deu a partir de um estudo observacional, e também da coleta de dados secundários das mortes pelo coronavírus da população da cidade de São Paulo, entre fevereiro e agosto de 2020. Por meio de uma vigilância epidemiológica neste período, em conjunto com uma unidade de desenvolvimento brasileira, os cientistas analisaram cerca de 37.583 hospitalizações, com diferentes quadros de vulnerabilidade social dos pacientes acometidos pela doença.
O que se obteve a partir da comparação entre pessoas do sexo masculino e do feminino foi a possibilidade de óbitos do sexo masculino ocorrerem por volta de um quarto de vezes a mais. “O sexo masculino foi determinante como um fator de risco para o óbito da doença nesse período inicial”, explica Teixeira, e ainda destaca que isso também houve no risco maior para contrair da doença, independentemente dos índices de vulnerabilidade social.
A vulnerabilidade social, assim como a predisposição de pacientes com comorbidades, possui papel determinante na configuração do quadro de mortes por covid, mas não chega a ser um fator determinante, como as diferenças encontradas entre os sexos na maneira como a doença afeta os pacientes. Nas regiões analisadas, os índices de letalidade chegaram a ser “124 vezes maior do que em locais com vulnerabilidade social muito baixa”, complementa Teixeira.
O médico ressalta que a razão de óbitos entre os sexos feminino e masculino permaneceu constante, demonstrando ocorrer independentemente dos extratos sociais observados. Nestes casos, residentes do sexo masculino de locais com maior vulnerabilidade social são mais propensos a morrer de covid-19.
Novas fases do estudo
Os pesquisadores têm concentrado a pesquisa nas sequelas da doença, ao buscarem entender como estas se desenvolvem, e qual a sua relação com o sexo biológico. O principal caso é a da covid longa, que engloba uma série de sintomas, como potencial reprodutivo.
Como ainda é necessário entender as peculiaridades da doença, Teixeira diz que é cedo para um consenso sobre a forma como as sequelas acometem os indivíduos. Ele também ressalta ser importante averiguar quais são os mecanismos biológicos envolvendo as pessoas do sexo masculino que fazem com que esse quadro atinja menos o sexo feminino.
Fonte: Jornal USP