Vacinação contra a covid está com atraso em quase 40% das cidades da Bahia

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A vacinação na Bahia, como em todos os estados, trava uma luta contra o tempo: é preciso vacinar o maior número de pessoas o mais rápido possível, para que a população fique logo imune. Se, em grande parte, faltam doses do imunizante, há também  vacinas encalhadas em muitas cidades. É o que ocorre, por exemplo, em   Itaetê, na região da  Chapada Diamantina. A cidade, com 16 mil habitantes, só aplicou 26,8% das doses recebidas. O segundo pior índice fica com  Jucuruçu, no extremo-sul, que só aplicou 28,9% das doses. Dos 417 municípios do estado, 155 (37,17% deles)  não chegaram a aplicar nem 75% dos imunizantes que receberam. 

Os números são do painel de cobertura vacinal da covid-19 da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), após uma consulta feita até às 15h  de ontem. Além de Itaetê e Jucuruçu,  outros quatro municípios   não usaram nem 50% das vacinas:  Ibiquera (40%), Brotas de Macaúbas (40,5%), Santa Cruz Cabrália (40,7%) e Itaju do Colônia (47,4%). 

O percentual, segundo a Sesab, é o mínimo exigido para que a secretaria envie novos lotes do imunizante. Na Bahia, a média total de aplicabilidade das vacinas contra covid nos 417 municípios é de 66,3% – das 439.980 doses recebidas pelo Ministério da Saúde, 291.676 foram utilizadas.

Os principais entraves que essas cidades enfrentam é, por incrível que pareça, a recusa das pessoas em receberem o imunizante, seja por indígenas, por profissionais de saúde ou por idosos. Outra dificuldade é de logística e atualização dos dados, como foi o caso de Brotas de Macaúbas. Cem doses, que serão recebidas ainda essa semana, já estavam computadas no sistema da Sesab. Já em Novo Horizonte, a prefeitura entendeu que teria que guardar metade do recebido para a segunda dose. Por isso, o percentual estava em 39,1% até a manhã desta terça.  

“Incialmente, recebemos 80 doses da Coronavac e começamos a vacinar a linha de frente, só que houve receio de não chegar a segunda dose nos 28 dias, a gente ficou com medo, porque eles não davam data, não davam certeza. Pela insegurança, vacinamos 40 na linha de frente e guardamos as outras 40 doses”, contou a secretária de saúde de Novo Horizonte, Daniela Gomes. Só depois de entrar em contato, na última sexta-feira (5), com o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (COSEMS/BA), que assegurou que as doses iriam chegar até o dia 17 de fevereiro, a secretária resolver aplicar as 40 doses que ficaram estocadas. Ela confessa ainda que não sabia qual vacina viria para a segunda dose, se seria da Coronavac ou Astrazeneca. Na dúvida, resolveu guardar.

Resolvido o impasse, mais 22 profissionais de saúde se vacinaram na segunda-feira (8), dos 40 que estavam faltando. Depois da primeira leva, a prefeitura recebeu 30 doses da de Oxford, também usadas para trabalhadores de unidades de saúde. Por isso, o índice subiu para 83,6% na tarde desta terça – 92 das 110 vacinas aplicadas. Ainda faltam, no entanto, 50 doses para vacinar todos da área de saúde. A secretária revelou que pelo menos sete deles, todos técnicos de enfermagem, se recusaram a receber o imunizante. “Existe muito medo e insegurança de ter algum problema ou reação à vacina”, relata Daniela. A cidade aguarda receber 70 doses esta semana para iniciar a vacinação em idosos acima de 90 anos, que, até o momento, são 64.   

Idosos se recusam a se vacinar em Pau Brasil 

Em Pau Brasil, no Sul da Bahia, quem tem dado mais trabalho são os idosos. Dentre os 41 que têm mais de 90 anos na cidade, 18 (quase metade) não quiserem ganhar a agulhada, mesmo a vacinação, nesse grupo prioritário, estar sendo feita a domicílio. “Tem idosos que a gente tenta ao máximo convencer, mas alguns são rebeldes mesmo, de até ser agressivo com a equipe de saúde. Já outros até querem tomar, mas os filhos não deixam eles tomarem, por medo, pela idade e pelo que passa na televisão. A gente faz a mobilização, vai às ruas de porta em porta, mas, se um abre a boca para dizer que não vai tomar, parece barril de pólvora, todo mundo recusa”, narra a coordenadora de vigilância epidemiológica de Pau Brasil, Kellen Rodrigues. Dentre os trabalhadores de saúde, 13 ainda não tomaram – 7 por não quiserem e 6 porque tiveram covid-19 e precisam esperar o vírus ficar inativo.  

Outro problema que tem feito o índice de aplicação das vacinas estarem baixos  – 52,4% (976 doses aplicadas das 1.893 recebidas) – é que a Sesab, por erro, enviou 576 doses a mais para os indígenas, que seriam da segunda dose. “O estado mandou para a gente 1.731 doses, sendo que a reserva tem 1.155 indígenas. Eles já mandaram 576 da segunda dose para os índios. Eles erraram e agora estão cobrando uma vacinação que eu não posso fazer, porque não posso antecipar os 28 dias”, pondera Kellen.  

Até agora, 841 indígenas foram vacinados, ou seja, 72% do total da reserva. Houve recusa de 61 deles, segundo a coordenadora. Por conta disso, a orientação que Sesab deu à ela foi a de usar 280 das 576 doses para vacinar os idosos acima de 80 anos. Todos os trabalhadores de saúde da linha de frente no combate à covid-19 foram imunizados. Tiveram uns que fizeram até exigência de que só iriam a da Oxford/AstraZeneca. Para contornar a situação, a secretaria de saúde permitiu. “A gente está usando de todas as estratégias para que as pessoas não se recusem a se vacinar. Os agentes de um posto de saúde escolheram até o laboratório que queria”, adiciona Rodrigues.  

Indígenas recusam vacina em Santa Cruz Cabrália  

Santa Cruz Cabrália, no extremo-sul da Bahia, aplicou somente 1.722 doses das 4.230 recebidas, ou seja, 40,7% delas. O desafio está em convencer os indígenas a se vacinarem. Segundo a secretária de saúde de Santa Cruz Cabrália, Renata Pinheiro, só 34% dos 3.837 indígenas da região receberam a primeira dose. “Nosso município tem enfrentado uma baixa adesão, bem abaixo do esperado. Está tendo muita recusa, muita fake news, tem a questão política também que está incendiando na questão da vacinação, porque muitos são contra o governo federal, muitos acham que a Anvisa não aprovou e que não houve testes suficientes para garantir a eficácia da vacina e tem a questão religiosa também, em que alguns acham que a vacina veio para alterar o DNA”, explica Renata.  

A secretária conta que a gestão municipal tem se reunido com caciques, pedindo apoio e criando estratégias de divulgação em rádios da cidade para contrapor à desinformação. Como não há condições de armazenamento na aldeia, são enviadas 200 doses diariamente para os índios. A maioria, no entanto, volta para o estoque na sede do município no fim do dia. 

A vacinação em outros grupos, tem avançado. Das 400 doses recebidas para os profissionais de saúde, 88% deles já foram imunizados. A imunização dos idosos acima de 80 anos começou na última segunda-feira (8) e está sendo feita a domicílio, por bairro. São pouco mais de 186 pessoas nessa faixa etária e a prefeitura recebeu 200 doses. O combinado com o governo do estado foi, então, separar as estatísticas dos indígenas das de trabalhadores de saúde e idosos, para que outros grupos pudessem receber as vacinas, já que o município não atingiria os 75% se todos os grupos fossem somados.  

Fonte: Correio   

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