Relatos de cronistas narram que o descaso com o cadáver de William, o Conquistador, foi tanto que o monarca inchou de forma surpreendente, espalhando órgãos podres durante seu enterro; mas o que estaria por trás disso?
DANIELA BAZI E ISABELA BARREIROS PUBLICADO EM 13/01/2021
William I, mais conhecido como William, o Conquistador foi o Duque da Normandia e Rei da Inglaterra entre os anos de 1035, até a sua morte em 1087. Seu governo ficou marcado, principalmente, por inúmeras lutas contra seu próprio povo e seu filho primogênito.
Ao assumir os títulos de seu pai na Normandia quando tinha apenas oito anos, o Duque teve que lidar com diversas rebeliões de cidadãos que estavam infelizes com o novo governante. Como forma de controlar a situação, mandou incendiar as aldeias, matando milhares de pessoas e levando os sobreviventes à extrema pobreza.
Diferente de seus súditos que mal tinham o que comer, o rei passou a se entregar cada vez mais para a comida, com enormes banquetes diários, que continham os melhores alimentos que podiam lhe proporcionar. Isso fez com que o monarca chegasse a um tamanho impressionante.
Sua enorme gula foi um dos principais motivos para a sua morte. Durante uma luta contra seu próprio filho, em 1087, o rei acabou tendo seu intestino gravemente ferido após seu cavalo empinar, e a sela atingir facilmente seu abdômen devido ao seu tamanho.
Os médicos da época passaram seis semanas tentando realizar uma cirurgia para que o soberano pudesse ser salvo, mas, novamente, por causa de seu tamanho, não conseguiram realizar o trabalho. Assim, William, o Conquistador, faleceu no dia 9 de setembro de 1087, em Rouen, na França.
Mas esse é apenas o começo dessa história. A partir daquele momento, iniciou sua longa jornada até finalmente ser sepultado. Por não ser amado por seu povo, assim que descobriram sobre sua morte, todos seus serviçais o abandonaram, deixando o monarca sozinho e sem ninguém que pudesse organizar seu enterro.
Seu corpo ficou durante um curto período de tempo em um centro médico na cidade onde morreu, até que um cavaleiro viajante e o clero de Rouen decidiram assumir a tarefa de enterrar William. Devido a demora, boa parte do cadáver se encontrava em decomposição, porém isso não impediu que a missão seguisse.
O plano era realizar o sepultamento do rei em uma igreja na cidade de Caen, a 112 km, enviando o corpo através de um barco pelo rio Sena, já que era a única rota disponível na época. Chegando lá, o ex-monarca estava mais inchado do que o normal, problema causado por bactérias acumuladas em seu intestino ferido, enchendo o corpo do rei com um gás podre.
Durante seu funeral, que contou com a presença de seu filho mais novo Henrique I e bispos e abades da Normandia, um homem invadiu a cerimônia afirmando que a igreja havia sido construída ilegalmente em seu terreno. Após algumas rápidas análises, foi comprovado de que ele realmente falava a verdade e acabou sendo compensado pelo caso.
Entretanto, esse não foi o único acontecimento bizarro durante o enterro de William I. Como já haviam se passado semanas desde sua morte, e a cidade sofria com fortes ondas de calor devido a queimadas que aconteciam na região, o intestino do rei acabou inflando cada vez mais.
Na tentativa de colocá-lo na tumba, os coveiros perceberam que o corpo estava muito maior do que o buraco no chão, e não entediam a razão disso estar acontecendo. A solução encontrada foi apertá-lo na cova até que, surpreendentemente, o corpo estourou espalhando órgãos podres em todos os convidados e deixando a igreja com um forte odor de carne em decomposição. O funeral terminou às pressas para que todos pudessem sair do local imediatamente.
O monge e cronista Orderic Vitalis escreveu ‘Historia Ecclesiastica’, contando a história da famosa ‘explosão’ do rei. Ele escreveu: “as entranhas inchadas estouraram e um fedor insuportável invadiu as narinas dos espectadores e de toda a multidão”. Era uma cena digna de filmes de Hollywood, ainda que dos mais nojentos.
Mas para a historiadora da Universidade de Glasgow, Miriam Bibby, essa narrativa tem mais exagero do que verdade histórica. É claro que o corpo do rei pode, de fato, ter deixado um cheiro horrível na igreja, por ter demorado tanto para ser enterrado. É possível, ainda, que as consequências do intestino ferido tenham sido drásticas.
Ainda assim, uma ‘explosão’ realmente parece um recurso de hipérbole usado no texto que descreve o acontecimento. A pesquisadora explica que é preciso levar em consideração que os cronistas, responsáveis pela divulgação da notícia, eram como os jornalistas do passado. O que eles queriam era uma boa história que chamasse a atenção do público.
Além disso, a especialista lembra da importância que o clero deu ao evento. O peso religioso foi enorme, pois que devoto não se sentiria compelido a obedecer às regras da Igreja Católica após a morte de um dos mais odiados reis? O óbito humilhante faria parte de um ‘plano divino’. Os próprios cronistas foram responsáveis por compactuar com essa narrativa, supostamente comprovando o ‘plano de Deus’ para o monarca.
Na época, a população local considerou o desastre do enterro e os maus tratos com o cadáver de William simplesmente como carma. Devido ao comportamento cruel e antipático do soberano durante a vida, seu final vergonhoso havia sido digno para compensar as tristezas causadas a seu povo.
Fonte: Aventuras na história