Antônio Condino Neto venceu o Prêmio Dasa de Inovação Biomédica pela ampliação do teste, que contempla doenças mitocondriais, imunológicas, metabólicas e os erros inatos da imunidade
Terça, 6 de dezembro de 2022
A triagem neonatal é importante para que, logo cedo, haja o diagnóstico de doenças e encaminhamento para o tratamento. Incluído nesse rol de exames está o teste do pezinho, que visa a identificar e tratar precocemente “doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas”.
O teste é feito a partir de 48h de vida por meio de uma pulsão no calcanhar do recém-nascido e, até pouco tempo, era possível detectar apenas seis doenças por meio desse exame. Porém, graças ao desenvolvimento de marcadores de doenças, utilizando a técnica do Trec (detectam defeitos nos linfócitos T) e do Krec (detectam defeitos nos linfócitos B), agora é possível o diagnóstico de mais de 50 doenças.
“Nós conseguimos diagnosticar um elemento das doenças que se referem ao sistema imune adaptativo, aquele que faz a memória das infecções, a memória das vacinas e os anticorpos: a chamada imunidade celular”, diz o professor Antônio Condino Neto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e vencedor do Prêmio Dasa de Inovação Biomédica por conta desse avanço. Atualmente, são cerca de 85 doenças relacionadas ao sistema imune que é possível detectar por meio desses dois marcadores.
Perspectivas para o SUS
Em maio do ano passado, o Executivo sancionou a Lei nº 14.154, que aperfeiçoa o Programa Nacional de Triagem Neonatal, “por meio do estabelecimento de rol mínimo de doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho”. Assim, são contempladas as doenças mitocondriais, imunológicas, metabólicas e os erros inatos da imunidade.
“Aqui na USP, nos últimos dez anos, nós vimos desenvolvendo marcadores para detecção dos erros inatos da imunidade no nosso laboratório no Instituto de Ciências Biomédicas e Laboratório de Imunologia Humana (…) a gente já pode tirar mais de 85 doenças oficialmente com um potencial para chegar em até 200”, diz o professor.
A boa notícia é que essa lei federal institui um prazo de quatro anos para uma implementação universal no SUS. Antônio Condino Neto salienta que, na cidade de São Paulo, o Teste do Pezinho Ampliado já está em prática e, por meio dele, 8 mil testes para detecção de erros inatos da imunidade são feitos por mês.
“Fizemos aproximadamente 200 mil crianças da parte dos erros inatos da imunidade.” O teste é um sucesso: foi possível detectar, até agora, sete bebês com imunodeficiência grave combinada e uma com leucemia congênita, algo inédito na literatura médica. O teste também já é feito no Estado de Minas Gerais e há a perspectiva de que seja ampliado no Estado de São Paulo e na região Sul do País, que caminha para a sua implementação.
O professor comenta que, em São Paulo, a frequência de doenças detectadas é o dobro daquelas relatadas nos Estados Unidos e na Europa: “Provavelmente porque a nossa genética é diferente, seja mais frequente aqui no nosso meio, ou porque talvez a tecnologia que a gente tenha desenvolvido aqui seja mais aperfeiçoada, mais sensível”.
Recentemente foi aprovada outra lei, que obriga os hospitais a explicarem para os pais as modalidades do Teste do Pezinho, o que significa um avanço nessa área.
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Fonte: Jornal USP