Psicóloga analisa como casos de massacres em escolas têm grande impacto na saúde mental das crianças e também dos educadores
O Brasil amanheceu de luto na última quarta-feira (5), quando um homem invadiu uma creche armando uma machadinha em Blumenau, Santa Catarina. Ele tirou a vida de ao menos quatro crianças, fugiu e se entregou em um quartel da Polícia Militar. Este foi o 24º ataque em escolas no país nos últimos 22 anos. Aliás, só em 2022, 5 cidades diferentes foram cenário de episódios do tipo.
Em um contexto já de baixa remuneração e sobrecarga de trabalho, a violência soma-se aos fatores que colocam em jogo a saúde mental dos profissionais da educação. De acordo com a psicóloga Cecília Rocha, um estudo realizado pela Nova Escola com quase 10.000 professores constatou que 72% tiveram a saúde mental afetada e precisaram buscar apoio durante a pandemia.
“Então, estamos falando de um público que ainda está se recuperando de uma fase difícil, que trouxe muita sobrecarga de trabalho, como a pressão dos desafios das aulas on-line. Agora, esses profissionais, ainda se recuperam dos efeitos desse momento tão difícil, vivem outro desafio, onde o medo e a ansiedade se fazem presentes novamente”, afirma.
Para as crianças, o cenário é muito similar. “É importante lembrar que, no que se refere à saúde mental das crianças, ainda estamos trabalhando as consequências de uma pandemia com isolamento social, no qual as crianças foram extremamente afetadas. Então, com certeza é um cenário preocupante”, destaca a profissional.
Segundo ela, emoções como medo, ansiedade e insegurança passam a tomar conta novamente. E, mesmo que as crianças não tenham acesso às notícias, elas muitas vezes percebem o não dito. Cecília lembra que a sensibilidade de algumas é capaz de ler os climas emocionais da família e professores. “Então, de alguma forma, elas também são impactadas”, aponta.
Caminhos para a promover a saúde mental
Cuidar da saúde mental de professores e alunos é primordial, destaca a psicóloga. “Costumo dizer que a escola é justamente o antídoto para muitos dos problemas que estamos vivendo. É um dos pilares para trazer uma mudança real na nossa sociedade. Então, precisamos investir nisso de forma séria e efetiva se queremos ver alguma mudança real na nossa sociedade”, ressalta.
Para a especialista, fazer do ambiente escolar um ambiente seguro é uma demanda urgente. Além das melhorias estruturais do espaço físico, é preciso investir em trabalhos preventivos, que possam trazer mais segurança para todos no médio e longo prazo.
“Precisamos cuidar das relações, do diálogo, focar na questão do bullying, na aceitação das diferenças, numa cultura pacífica de não violência. Isso é urgente e todos esses acontecimentos nos mostram o quanto precisamos agir rápido e de forma séria e efetiva”, enfatiza a profissional.
De acordo com Cecília, é preciso fortalecer a escola. Com isso, é ainda mais importante a adoção de políticas públicas que possam valorizar o trabalho dos educadores. “A importância também de um novo olhar para educação, onde temas que contribuam para uma cultura pacífica da nossa sociedade possam ser fortalecidos e ganhar prioridade nos planejamentos escolares”, afirma.
O papel dos pais
A psicóloga lembra que os pais têm um papel muito importante nesse contexto. “Gosto de dizer sempre que a família é nossa primeira escola e a criança aprende muito pelo exemplo. Então, podemos ensinar muito em casa, começando por não usar da violência como forma de educação. Ainda vemos muitas famílias usando esse método na educação de seus filhos e isso é muito nocivo para a saúde mental da criança e do adolescente”, aponta.
Além disso, também é importante criar um ambiente familiar com boa comunicação, onde haja expressão das emoções. Não é indicado, por exemplo, censurar a expressão emocional dos meninos, que comumente é associada a uma “coisa de menina”.
“Ressalto também que estamos ensinando muita coisa para nossos filhos, mesmo sem perceber. Então, esse tema das diferenças é indiretamente trabalhado quando tratamos todo mundo da mesma forma, com respeito e gentileza. Quando não deixamos ninguém de fora, ou quando temos o respeito, o carinho e o afeto como base no relacionamento com os outros, fora e dentro de casa.Também quando trazemos um pensamento cooperativo, ao invés de competitivo para nossas crianças”, analisa.
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Para a psicóloga, é extremamente importante levar os valores de inclusão e respeito para dentro das nossas casas. “E isso começa pelas nossas falas, atitudes e comportamentos. É um longo caminho, mas extremamente necessário para vivermos num mundo mais pacífico”, finaliza.
Fonte: Saúde em dia