Entenda os riscos da terapia hormonal para ganho de massa sem acompanhamento médico

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Entre os efeitos adversos estão problemas cardiovasculares e renais, transtornos de comportamento, além de infertilidade e disfunção erétil

Terapia hormonal com testosterona e anabolizantes são utilizados visando o ganho de massa muscular e a melhora do desempenho esportivo. No entanto, o uso dos produtos sem a prescrição e o acompanhamento médico pode ser perigoso para a saúde.

Uma resolução recente do Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu a prescrição médica de terapia hormonal e anabolizantes com finalidade puramente estética. A medida mantém a permissão da indicação a pacientes com diagnóstico comprovado da falta do hormônio no organismo e o quadro clínico compatível com a utilização desse tipo de tratamento.

De acordo com o conselho, a norma destaca a inexistência de estudos clínicos de boa qualidade metodológica que demonstrem a magnitude dos riscos em homens e em mulheres, além da ausência de comprovação científica da necessidade da terapia hormonal com testosterona para a mulher.

Importância da testosterona

A testosterona é um hormônio produzido nos testículos e nas glândulas suprarrenais, com efeitos para o corpo inteiro do homem. Ela ajuda a produzir proteínas e é essencial para o comportamento sexual normal e para as ereções. Além disso, afeta diversas atividades metabólicas, como produção de células do sangue na medula óssea, formação do osso, metabolismo de lipídios e de carboidratos, função dos rins e crescimento da próstata.

Em mulheres, a testosterona está presente em baixas quantidades sendo associada à regulação biológica e ao processo de reprodução.

A terapia de reposição de testosterona a partir de compostos sintéticos é indicada para indivíduos com sinais de baixa do hormônio, o chamado hipogonadismo, com confirmação laboratorial.

O diagnóstico de hipogonadismo masculino requer a presença de sintomas clínicos como libido baixa, disfunção erétil e fadiga, além da dosagem de testosterona realizada no mínimo em duas ocasiões no período da manhã na ausência de doenças agudas ou graves.

“Os derivados de testosterona surgiram e devem ser utilizados para o tratamento de problemas de saúde devidamente diagnosticados, segundo parâmetros clínicos e métodos complementares. Quando o médico assistente pensa em prescrever terapia de testosterona, ele leva em consideração uma série de fatores – presença de contraindicações, dose, via de administração, intervalo das doses, etc., com o intuito de melhorar a qualidade de vida de seus pacientes ao mesmo tempo que minimiza a chance dos efeitos colaterais possíveis”, afirma o médico urologista Dimas Lemos Antunes, em comunicado.

Compostos sintéticos

Compostos sintéticos com base em testosterona ou que induzem aumento do hormônio, como os anabolizantes, são utilizados a partir de prescrição médica para o aumento de massa muscular em casos específicos, como explica o cardiologista Leandro Costa, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

“A suplementação de hormônios como a testosterona se dá primordialmente naqueles indivíduos que têm falta desse hormônio por falta de produção endógena, do próprio organismo. Há falta e necessidade de complementação. Uma segunda indicação é para indivíduos que estão em caquexia, com muito baixo peso, o que acontece bastante em pacientes com câncer ou que estão com terapia intensiva. Nesses casos, os medicamentos são utilizados para o aumento de massa muscular”, diz Costa.

No entanto, os medicamentos também são utilizados erroneamente como um atalho para ganho de massa muscular a partir da administração de forma injetável intramuscular, via oral e através de gel transdérmico. A prática sem orientação médica tende a ser feita em doses exageradas ou intervalos curtos, chamados ciclos, o que pode levar a uma sobrecarga no organismo.

Entre os efeitos adversos estão problemas cardiovasculares, incluindo hipertrofia cardíaca, hipertensão arterial e infarto agudo do miocárdio. O uso incorreto também pode favorecer a formação de placas e obstrução das artérias, aumentar a coagulação do sangue e a formação de tromboses.

Para além dos impactos cardíacos, o uso de testosterona e anabolizantes pode provocar doenças nos rins, como hepatite medicamentosa, insuficiência hepática e câncer, aumento de acne, queda de cabelo, e retenção de líquido no organismo.

Os indivíduos podem apresentar ainda transtornos mentais e de comportamento, como depressão, dependência e alucinações, além de impactos endócrinos associados a quadros de infertilidade, disfunção erétil e diminuição de libido.

“Além dos efeitos colaterais relacionados ao sistema cardiovascular, como infarto cardíaco e acidente vascular cerebral, existem riscos urológicos associados ao uso inapropriado de anabolizantes, principalmente infertilidade, disfunção erétil, aumento das mamas e diminuição dos testículos. Esses efeitos geralmente são transitórios, geralmente 6 a 18 meses, mas podem demorar até anos e existem relatos de efeito permanente”, diz Antunes.

O especialista explica que o mecanismo que leva à disfunção erétil e infertilidade pelo uso de anabolizantes é basicamente o mesmo.

“Para produzir a testosterona e fabricar os espermatozoides, os testículos recebem uma ‘ordem’ através dos hormônios produzidos pela glândula-mestra localizada no cérebro – a hipófise. Acontece que, ao receber a testosterona externa, a nossa hipófise passa a entender que não precisa mais mandar os sinais de ordem para os testículos produzirem testosterona e espermatozoides”, detalha.

Mesmo com a interrupção do uso dos anabolizantes, uma vez que não há mais ordem da hipófise, os testículos continuam sem trabalhar, levando o homem a disfunção erétil e infertilidade. Com o passar dos meses, esse processo pode ir se revertendo de forma espontânea ou com a ajuda de medicações prescritas pelo médico.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) alerta que no caso das mulheres, o uso de anabolizantes pode gerar características masculinas no corpo, como engrossamento da voz e surgimento de pelos além do normal. Além disso, aumento do tamanho do clitóris, irregularidade ou interrupção das menstruações, diminuição dos seios e aumento de apetite.

De acordo com a SBEM, para adolescentes, as consequências podem ser ainda mais graves. O uso pode comprometer o crescimento, levar à maturação óssea acelerada, aumento da frequência e duração das ereções, desenvolvimento sexual precoce e aumento de pelos púbicos e do corpo.

Uso de testosterona e anabolizantes pode provocar doenças nos rins, como hepatite medicamentosa, insuficiência hepática e câncer / Liudmila Chernetska/Getty Images

Riscos de uso de produtos falsificados

Em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a apreensão e a proibição da comercialização, distribuição e uso de unidades falsificadas dos medicamentos Deca-Durabolin e Durateston.

De acordo com a Anvisa, a medida foi tomada após a agência ser informada pela empresa Aspen Pharma sobre a circulação, no mercado brasileiro, de unidades falsificadas dos medicamentos. Atualmente, ambos os medicamentos estão devidamente registrados no país em nome da Aspen Pharma.

Durateston é indicado no tratamento de reposição de testosterona em homens portadores de condições associadas com hipogonadismo primário e secundário (tanto congênito quanto adquirido), quando houver confirmação de deficiência de testosterona por características clínicas e testes bioquímicos. Já Deca-Durabolin pertence ao grupo de medicamentos conhecidos como esteroides anabolizantes e ajuda a reconstruir os tecidos que se tornaram fracos por causa de uma doença crônica ou danos graves.

“Durateston é um medicamento injetável do grupo dos anabolizantes, usado para a reposição da testosterona, mas só é seguro o uso quando há devida indicação. É utilizado de forma indiscriminada por alguns atletas para melhora de performance, mesmo sendo rastreada em exames antidoping. O uso é aprovado para idosos com baixa massa muscular, em casos de perda óssea importante, no tratamento de anemia citotóxica, entre outras”, explica a médica nutróloga Ana Luisa Vilela.

A especialista explica que o medicamento Deca Durabolin, cujo princípio ativo é o decanoato de nandrolona, é indicado para pessoas que não produzem hormônio suficiente por motivos específicos.

“O uso exagerado pode acarretar em bloqueio dos eixos hormonais, sobrecarga de fígado e rins, aumento do risco de câncer, como o de próstata, queda de cabelo, aumento da oleosidade da pele, entre outros efeitos colaterais. É uma forma sintética que ao ser injetada é metabolizada pelo fígado, podendo levar o órgão a sobrecarga”, alerta.

Além disso, os especialistas apontam os riscos da utilização de produtos que podem ser falsificados. “Medicamentos de origem duvidosa principalmente esteroides e anabolizantes podem ser altamente tóxicos, podendo causar infinitos problemas a saúde, pois não sabemos exatamente a formulação desses compostos nem mesmo se a nandrolona estará presente”, diz Ana.

“Só pela falsificação já é algo que não se sabe a procedência e qual vai ser a reação dessa substância no organismo das pessoas. Se já é complexo o uso com produtos de fato originais, isso aumenta a chance de problemas quando vem de origem falsificada”, complementa Costa.

Alimentação saudável
Alimentação equilibrada favorece o ganho de massa muscular de maneira saudável / Getty Images

Como ganhar massa muscular de maneira saudável

O professor e preparador físico Marcio Atalla detalha como é possível ganhar massa muscular de maneira saudável a partir de atividade física e alimentação adequada.

“A recomendação é fazer um treino de força, chamado resistivo, em que se pode escolher entre musculação, funcional e crossfit, que são atividades que vão propor ganho de massa muscular. O ideal é cerca de cinco vezes por semana, podendo variar entre 3 e 4 vezes por semana”, explica.

De acordo com o preparador físico, a alimentação deve ser voltada ao consumo de uma dieta equilibrada com a valorização de proteínas. O consumo deve ser fracionado ao longo do dia, entre café da manhã, almoço, jantar e lanches.

“Você tem que aliar a atividade física a um consumo de proteína, que seja de 1,5 a 2 gramas de proteína por quilo de peso corporal. Imaginando uma pessoa de 70 quilos, que ela faça um consumo aproximado de 110 a 140 gramas de proteína. Esse consumo deve ser fracionado ao longo do dia, visto que nosso corpo tem uma capacidade limitada de absorção de proteína por refeição”, afirma.

Fonte: CNN Brasil

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