Resiliência

Dhonatas Silva

Por- Dhonatas Silva – Colunista Ipirá City

No ano de 2007, nos EUA, Martin foi condenado a 20 anos de prisão em
regime fechado. Motivo? Ele e o amigo Gregory estavam saindo de uma boate no
Brooklyn às 4 da manhã, e Gregory que, por sinal, estava muito bêbado, assaltou
uma moça que também estava deixando o local no mesmo momento em que eles.
─ Perdeu, perdeu. Anda, passa a bolsa sua vadia! ─ Disse Gregory, que
estava armado e transtornado.
Enquanto Gregory corria com a bolsa da moça em direção ao carro, e ela
gritava por socorro, Martin ficou paralisado por alguns segundos sem entender nada
do que estava acontecendo. Tempo suficiente para que ela pudesse ver e
memorizar seu rosto pra fazer um retrato falado assim que conseguisse falar com a
polícia. Um dos seguranças da boate, que presenciou tudo, acionou uma viatura que
não demorou a chegar. Martin correu em direção ao carro, mas Gregory não o
esperou e saiu cantando pneu. Sem muitas alternativas, Martin correu sem destino.
Estava longe de casa, e apertou ainda mais o passo quando ouviu o barulho das
sirenes. Jennifer, a moça que foi roubada, acompanhou os policiais na viatura. Ela
tinha certeza de que se conseguissem encontrar aquele rapaz negro novamente,
posteriormente seria possível recuperar sua bolsa que o rapaz branco havia levado.
─ Ali está ele seu policial, esse rapaz estava com o outro que me assaltou, ele
é o comparsa.
─ Mãos na cabeça! Encoste-se à parede! Abra as pernas! ─ Disse um dos
policiais que estava acompanhado por mais dois, além de Jennifer.
─ Mas senhor, eu não fiz nada!
─ Senhor? Senhor está no céu. Cadê a droga hein? E o seu comparsa?
Anda, fale numa boa antes que eu te obrigue a contar tudo.
Enquanto efetuava a revista, o policial colocou drogas em um dos bolsos de
Martin. O segurança da boate entrou em contato com o pai de Gregory para contar
sobre o ocorrido. Os policiais levaram Martin para a delegacia. Ao chegarem, o
delegado que já estava ciente de toda situação, tratou de fingir e agiu como se não
soubesse de nada.
─ Ora, ora, mas quem é esse meliante? ─ Disse o delegado em tom
sarcástico, com um sorriso no canto da boca.
─ Eu sou inocente senhor. Admito que estava com o Gregory no momento do
assalto, mas com certeza ele estava fora de si. Ele bebeu muito durante a festa. Se
vocês me soltarem, irei a sua procura e trarei de volta a bolsa da moça.
─ Olha só como ele fala bonito, agora me explique isso aqui! ─ Falou o
policial tirando as drogas do bolso de Martin, as mesmas que o próprio havia
colocado.
Bateram bastante em Martin, antes de o levarem para a sela. Pouco tempo
depois, Arnoud, pai de Gregory, chegou à delegacia com a bolsa de Jennifer, junto
com ele estava o segurança da boate, Joshi, amigo de Martin e Gregory desde a
infância. Joshi fez questão de colocar as imagens das câmeras de segurança em um
pen drive, e guardou em um lugar onde só ele poderia saber. Naquele momento ele
só pensava em seu emprego, havia iniciado o trabalho na boate há apenas dois
meses, tinha um filho recém-nascido, e trabalho estava muito difícil de encontrar,
então mesmo presenciando tudo, contou para a polícia que infelizmente as câmeras
de segurança estavam com problemas e que não poderiam servir como provas, mas
que ele havia presenciado o assalto e que estava disposto a ajudar a polícia,
contando sua versão.
─ Senhores, eu sendo negro, assim como o meu amigo Martin, e tendo
passado por várias dificuldades assim como ele na infância, poderia vir aqui e tentar
de todas as formas inocentá-lo, mas o que realmente aconteceu foi que Martin a
todo o momento durante a festa ficava obrigando Gregory a beber, e acredito-me
que tudo foi bem planejado, afinal, acabamos de encontrar Gregory todo amarrado
no carro e junto com ele estavam uma pistola Glock G44 e a bolsa dessa moça.
Martin que morava sozinho, após ter perdido a esposa e o filho, vítimas de
bala perdida durante uma troca de tiros entre facções, agora estava isolado em uma
sela, prestes a ser condenado por roubo, tentativa de homicídio, porte ilegal de arma
e tráfico de drogas. Jennifer era advogada, porém não quis se dar ao trabalho de
investigar mais sobre o caso, já que um dos suspeitos já estava preso, e após
descobrir que o outro rapaz era filho do dono da boate, que por sinal tinha muito
dinheiro, dificilmente aconteceria algo com ele. Além do mais, sua bolsa já estava
em mãos, então o caso pra ela se deu como encerrado. A essa altura do
campeonato Gregory já estava em casa, com a lombra curada quase que 100%. Os
seguranças do pai foram ao seu encontro, o amarraram, tiraram algumas fotos para
fornecer para a polícia e em seguida o levaram para casa. Martin foi condenado a 20
anos de prisão em regime fechado.
Um ano depois do incidente, Jennifer que morava na Califórnia, assim como
sempre fez no período de férias, foi visitar seus pais. Ela cresceu no Brooklyn, mas
se mudou para a Califórnia assim que concluiu o ensino médio. Foi à procura de um
emprego para se sustentar enquanto corria atrás do grande sonho de torna-se
advogada. Na primeira noite, assim que chegou de viagem, ela resolveu ir até a
boate, para espairecer um pouco, e porque não dizer também, em busca de
respostas sobre aquela noite de um ano atrás. Durante a viagem ela refletiu
bastante sobre aquele acontecimento, pois por ser advogada, ela percebeu que
precisava pôr os pontos nos is. Seguiu para a boate. Chegando lá, encontrou Joshi
na pista de dança. O som estava muito alto, então ela o chamou para conversarem
no bar.
─ Oi, tudo bem? Lembra-se de mim? Sou a Jennifer. Há um ano eu fui
assaltada na saída dessa boate. Qual o seu nome mesmo? Você não trabalha mais
aqui?
─ Tudo bem, claro que me lembro de você. Meu nome é Joshi. É, aquela
noite foi tensa. Trabalho, trabalho sim, mas hoje é meu dia de folga, então decidi
curtir por aqui mesmo.
─ Então Joshi, você tem notícias dos seus amigos? ─ Ela estava disposta a
arrancar o máximo de informações possíveis dele.
─ O Martin foi condenado a 20 anos de prisão, por roubo, tentativa de
homicídio, porte ilegal de arma e tráfico de drogas. O Gregory está ali na pista de
dança. Ele sempre teve problemas com drogas e bebidas, e o senhor Arnoud já não
sabe mais o que fazer com ele, mas sempre dá um jeito de limpar a ficha do filho
após as várias lambanças que ele apronta.
─ Hum… E naquela noite, Martin realmente foi o culpado por tudo que
aconteceu? ─ Ela percebeu que Joshi estava bêbado e que conseguir mais
informações seria mais fácil do que ela pensava.
─ Mas porque está tão interessada em saber de tudo isso? Você é detetive
por acaso? ─ Ele começou a suspeitar!
─ Não se esqueça de que eu fui a vítima, apenas tenho algumas dúvidas
sobre tudo que aconteceu. E além de está interessada em saber tudo isso, também
tenho interesse em você. ─ Ela resolveu colocar o plano B em ação.
─ Olha só, agora o papo ficou interessante pra mim também. Sendo assim,
estou disposto a contar tudo que sei, contanto que hoje você saia daqui direto para
um motel comigo. O ladrão hoje serei eu, irei roubar seu coração. ─ Disse ele
convencido de que ela iria para a cama com ele ao fim da festa.
─ Pois então me conte tudo que sabe, e mais tarde eu lhe mostrarei tudo que
sei fazer! ─ Ela falou com um olhar penetrante, enquanto mordia os lábios.
─ Então gatinha, o carro que Gregory fugiu é do senhor Arnoud. Ele sempre
pega as coisas do pai sem permissão, pois sabe que se pedir o mesmo não irá
permitir. A arma também pertence ao pai dele. Quanto às drogas, eu sinceramente
não sei o que dizer, pois o Martin nunca foi envolvido com nada errado. O conheço
desde criança, então sei muito sobre a vida dele. Ele era casado, tinha um filho, mas
ambos morreram vítimas de bala perdida durante uma troca de tiros entre facções.
Ele é mecânico e trabalha na própria garagem, sempre foi um cara tranquilo e
costumava ir à igreja todo final de semana. Ele Inclusive já nos convidou por várias
vezes para irmos fazer uma visita, mas eu e o Gregory nunca fomos. Então, isso é
tudo que sei.
─ Peraê, agora eu me lembrei de uma coisa. Quando o policial abordou o
Martin, ouvi-o dizer que estava limpo, mas quando chegamos à delegacia, ele tirou
droga de seu bolso, ou seja, ele mesmo quem a havia colocado lá. Mas isso tudo
que temos não são provas suficientes para inocentar o Martin.
Enquanto Jennifer e Joshi conversavam, Gregory se envolveu em uma
confusão na pista de dança. Joshi correu para ajudar o filho do patrão, mas quando
se aproximou, os rapazes já estavam se retirando da boate.
─ Gregory, você está bem cara? O que aconteceu? Quem eram aqueles
caras? ─ Perguntou Joshi, apavorado.
─ Mano, tu tem que me ajudar. Eles vieram me cobrar uma dívida de drogas,
falaram que eu tenho até amanhã ao meio dia pra conseguir a grana. Senão eu ou
meu pai iremos sofrer as consequências. ─ Gregory estava totalmente bêbado ou
drogado, não dava pra saber ao certo.
─ Mas quanto você deve pra eles? Posso tentar conversar com seu pai.
─ Eu devo US$10.000,00. Não, meu pai não pode saber de nada, eu prometi
pra ele que não me envolveria em mais nenhuma confusão. Tem que haver outra
maneira. Ajuda-me Joshi, por favor. Caso consiga outra maneira de me ajudar e
meu pai descubra que me acobertou, pode ir até Los Angeles e procurar por James
Robby, ele tem uma boate lá também, basta dizer que é meu amigo e ele conseguirá
um emprego pra você.
Joshi voltou para ficar com Jennifer, lembrou-se do pen drive e percebeu que
mandar Gregory para a prisão seria a única forma de ajudá-lo naquele momento. Já
que ele teria outro emprego garantido, não hesitou em pedir ajuda para Jennifer.
─ Então gatinha, já te contei várias coisas, e acabei de lembrar-me que não
contei a mais importante. Mas antes quero saber um pouco mais sobre você, o que
faz da vida. Irei precisar de sua ajudar pra uma coisa, mas antes preciso saber se
posso confiar em você.
─ Ok, eu moro na Califórnia, mas todos os anos, venho passar as férias com
meus pais, sou advogada. O que rolou ali na pista de dança? Pra quê precisa de
minha ajuda? O que deixou de me contar?
─ Sério? Não brinca. Advogada? É exatamente do que eu preciso. Na
verdade aquela confusão toda foram uns rapazes que vieram cobrar uma dívida de
drogas do Gregory, US$10.000,00. Ele pediu minha ajuda, mas para que eu poça
ajuda-lo, precisarei de você. Vem comigo que te explico tudo.
Jennifer entrou no carro com Joshi. Seguiram. A noite não iria mais acabar do
jeito que ele planejou, mas naquele momento o foco era outro. Ajudar Gregory,
inocentar Martin, e independente do que acontecesse, garantir um emprego.
─ Pra onde está me levando? Não é pra um motel, não é?
─ Não, não. Outro dia, talvez. Pronto, chegamos. Vem, vamos entrar. Eu
moro aqui. Minha esposa e meu filho já estão dormindo. Quero te mostrar uma
coisa.
Joshi pegou o pen driver e mostrou para Jennifer as imagens das câmeras de
segurança na noite do assalto. Ela assistiu e ficou horrorizada. Martin estava preso
há um ano sendo inocente. Entraram no carro e seguiram para a delegacia. Ela não
queria que aquele homem passasse nem mais um dia naquele lugar.
─ Boa noite senhor delegado. Poderia por favor, assistir a essas imagens e
ouvir o que este homem tem a dizer.
─ Ei, eu te conheço. Você não é… ─ Jennifer o interrompeu.
─ Isso mesmo. Sou Jennifer, Estive aqui há um ano por conta de um assalto
que sofri, e hoje venho como advogada do Martin, com provas para inocentá-lo.
O delegado assistiu todas as imagens, ouviu o que Joshi tinha a dizer,
interrogou os policiais que haviam abordado Martin naquela noite, os mesmos
confessaram terem colocado as drogas no bolso dele. Quanto a Gregory, decidiu
prende-lo, afinal, Arnold tinha uma dívida antiga pendente, prender o filho dele seria
uma maneira de receber o pagamento. Joshi ficou por lá mesmo, foi acusado por
ocultação de provas. O delegado garantiu que no dia seguinte, ao meio dia, Martin
seria libertado. Os policiais foram à procura de Gregory que ainda estava na boate e
efetuaram sua prisão.
No dia seguinte ao meio dia, os traficantes atiçaram fogo na boate que deu
perda total, felizmente não havia ninguém no local. Enquanto isso, Jennifer foi para
frente da delegacia aguardar a saída de Martin. Que não demorou de aconteceu.
─ Oi, tudo bem? Sou a Jennifer, eu… ─ Martin a interrompeu.
─ Eu sei quem você é, foi por sua causa que eu estava preso, mas não tem
problema, eu te perdoo. Orei bastante durante todo esse tempo que estive preso, e
sabia que na hora certa a verdade viria à tona e eu ganharia minha liberdade.
─ O Joshi, seu amigo que me contou toda verdade.
─ Eu não quero mais saber dessa história, tá legal? Não quero saber quem
aprontou pra cima de mim. Quero apenas aproveitar minha liberdade, minha vida,
afinal, eu não sei o que pode acontecer daqui a dois minutos.
─ Você pode não saber, mas eu sei.
Jennifer o beijou. Um beijo tão verdadeiro, tão intenso e tão demorado, que
durou bem mais que dois minutos.
FIM.

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