Fugindo da realidade

Dhonatas Silva

Por – Dhonatas Silva (Colunista – Ipirá City)

O que é a realidade? Seria tudo aquilo que estamos vivendo? Por que por vezes tentamos fugir de nós ou de onde estamos? O que buscamos, afinal? Gregório tinha 40 anos de idade, desde criança seu maior sonho era conhecer a FELICIDADE. Ora, mas isso é fácil, não é mesmo? Já que a felicidade pode ser encontrada em tantas coisas e lugares. Mas Gregório não a conhecia, e já havia procurado seu significado no dicionário.

Felicidade é o estado de quem é feliz, um sentimento de bem-estar e contentamento. Mas ele não compreendia nada daquilo. Sempre que ligava a TV, via pessoas com tão pouca condição, mas com um
sorriso largo no rosto, e se perguntava:

─ Mas como podem ser tão felizes com tão pouco?

─ Questionava constantemente.
Gregório então resolveu ir à busca do seu maior sonho. Ele não costumava
sair muito de casa. Em sua garagem tinham dois carros, duas motos e uma bicicleta.
Certo dia ele resolveu fugir de casa pra ver se encontrava a felicidade perdida em
algum lugar.

Vestiu-se igual àquelas pessoas que ele costumava ver na TV, pegou a
roupa mais velha que tinha, colocou um pouco de dinheiro, seus documentos e
cartões de crédito numa bolsa, pegou a bicicleta e seguiu sem rumo.

Ele não conhecia muito bem a cidade, mas se arriscou mesmo assim. Após pedalar por
pouco mais de 2 km, se deparou com um mendigo que não hesitou em pedi-lo
ajuda.

─ Ei, ei, me ajude, por favor. Estou morrendo de fome.
Gregório já havia se assustado com a situação em que o homem se
encontrava, e se emocionou depois de ouvir aquelas palavras. Ele queria ajudar
aquele homem.

─ Boa tarde, me chamo Gregório, qual o seu nome?

─ Meu nome é Antônio, mas pode me chamar de Tõe.

─ Antônio, vamos fazer o seguinte, almoçaremos naquele restaurante do
outro lado da rua, enquanto você me conta sua história, tudo bem?
Antônio prontamente aceitou, estava com muita fome e aquele era um convite
irrecusável. Serviram-se, afinal, o restaurante era self-service, e começaram a
conversar.

─ Então Antônio, conte-me sua história. O que aconteceu para que você
chegasse a essa situação?
Gregório que era um homem pobre, que só tinha dinheiro, agora conversava
com Tõe, um homem rico que morava na rua.

O homem pobre que veementemente
fugiu de casa em busca de algo que não poderia comprar, nunca imaginou que
encontraria sinais de felicidade tão rápido. Tõe começou a contar sua história.

─ Então senhor Grego, eu tenho 60 anos de idade, moro nas ruas a pouco
mais de um ano. Trabalhei minha vida inteira limpando banheiros públicos, ninguém
nunca me notou enquanto eu trabalhava. Diariamente centenas de pessoas
entravam nos banheiros, mas sequer davam-me bom dia. Depois que me aposentei, imaginei que iria aproveitar ainda mais o tempo com meu filho e minha esposa, mas…

─ Mas o que Antônio, o que houve com eles? Te abandonaram? O que você
aprontou? ─ Gregório estava morto de curiosidade.

─ O que aprontei? Porque acha que aprontei algo?

─ O semblante de Tõe
mudou rapidamente, agora parecia estar irritado.

─ Ora, normalmente essas histórias são resultado de um marido que bebe e
bate na mulher, ou trai, ou…

─ Tõe o interrompeu.

─ Ou o que? Acha que os matei? Não sei em que mundo você vive, mas acho
que está assistindo muita televisão. Eu amava minha esposa e meu filho, e sim, eles
me abandonaram, e sim eu bebia muito, mas só comecei a beber depois do
ocorrido?

─ Conte-me tudo Antônio, não irei mais interrompê-lo, o que ocorreu?

─ Senhor Grego, eu posso ser desprovido de beleza e de dinheiro, mas tenho
um bom coração. Minha esposa e meu filho perderam suas vidas em um acidente de
carro, desde então não consegui mais voltar pra casa. Sei que não irei conseguir
abrir a porta da minha casa e não vê-los vindo correndo pra me abraçar e perguntar
como havia sido meu dia. Eu via centenas de pessoas durante o dia todo, mas
apenas quatro me viam.

─ Meus sentimentos seu Antônio. Quatro? Mas você não morava apenas com
sua esposa e seu filho? ─ Gregório estava confuso.

─ Sim, sim, mas lá em cima tem alguém que nunca deixou de olhar por mim,
um Deus que me faz sorrir todos os dias e que oro pedindo forças para entrar na
minha casa novamente.

─ E a quarta pessoa? ─ Indagou louco pela resposta.

─ Eu!

─ Você? Isso é uma piada?

─ Por que seria? Eu sempre era o segundo a me ver todos os dias? E antes
que você me interrompa perguntando se o primeiro era minha esposa, não. O
primeiro sempre era aquele que nunca dorme, e eu acordava muito cedo e depois
da oração ia direto para o banheiro me olhar no espelho. Admirava o quanto era
especial, feliz e rico.

─ Rico? Quanto você ganhava para lavar banheiros? ─ Gregório perguntou
sorrindo.

─ O suficiente para não precisar sair por aí em busca da felicidade, pois ela já
morava comigo.

Aquelas palavras dilaceraram o coração de Gregório. Foi uma direta, até
parecia que Tõe sabia que ele havia fugido de casa com esse intuito.

A história e a fé daquele homem fizeram Gregório lembrar-se de sua empregada, seu pai, sua
mãe, seus irmãos, do cachorro, enfim, de todos. Que mesmo convivendo na mesma
casa, não se viam há anos. Gregório resolveu se oferecer para ajudar Tõe.

─ Antônio, eu quero lhe ajudar! ─ Gregório estava preocupado de deixá-lo
continuar morando na rua.

─ Já lhe falei que pode me chamar de Tõe. ─ Sorriram juntos. Ali nascia uma
bela amizade.

─ Está bem, está bem, Tõe. Deixa-me te ajudar.

─ Me ajudar como? Você já me pagou um prato de comida hoje, se quer me
ajudar, passe por aqui de novo amanhã. ─ Sorriram novamente.
O bom humor de Tõe diante da realidade em que vivia, cada vez mais
cativava Gregório.

─ Vamos à sua casa? ─ Ele interrompeu o sorriso de Tõe com essa pergunta.
Provavelmente ele não imaginava, mas tocou na ferida de Tõe. Que
atravessou a rua correndo e sentou no mesmo lugar onde Gregório o havia
encontrado, e desabou em prantos. Foram longos minutos de conversa, até que
uma frase mudou toda situação.

─ Onde fica sua casa, Tõe?

─ Estamos na calçada d

─ Tõe, certa vez li uma frase de um escritor ipiraense chamado Dhonatas
Silva que dizia o seguinte: “Precisamos assustar nossos medos”. Vamos entrar. Saí
de casa disposto a conhecer a felicidade, e você me disse que ela morava com
você. Pode me apresentá-la?

FIM.

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