Premiação de cinema chinês Panda de Ouro recebe inscrições de 104 países

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Em sua primeira edição, festival recebeu mais 7 mil pedidos de adesão e premiou cineastas cineastas latino americanos

A nova premiação chinesa internacional de filmes e séries, Panda de Ouro, convocou produções de países de diversas regiões. Vietnã, Irã, Argentina, Rússia, República Tcheca, Tailândia e Colômbia alguns dos que tiveram produções indicadas, além daqueles que costumam dominar as premiações internacionais renomadas como EUA, França, Reino Unido e Itália.

O evento tem sido fomentado pelo governo chinês há cerca de uma década em suas relações bilaterais e nas diversas plataformas internacionais em que participa. Segundo os organizadores, o novo festival tem como objetivo aumentar as trocas culturais entre países sob o conceito de uma “Comunidade com Futuro Compartilhado para a Humanidade.”

A premiação recebeu um total de 7 mil inscrições de 104 países. Ao todo foram 25 prêmios em quatro categorias: filmes, séries, animação e documentário. O presidente da Sociedade de Críticos de Cinema da China, Rao Shuguang, participou da avaliação preliminar do prêmio após assistir a mais de 100 filmes de cerca de 40 países. Segundo ele, filmes da América do Sul, incluindo brasileiros, foram bem avaliados pelos juízes chineses do painel. 

Ele espera que por meio das trocas em eventos cinematográficos como esses, possa ser promovida ainda mais a comunicação entre cineastas, “fomentar mais projetos colaborativos e injetar mais elementos e vitalidade do cinema no desenvolvimento pacífico do mundo e na consciência de um futuro compartilhado para a humanidade”.

Shuguang disse ao Brasil de Fato que na China as pessoas sentem uma proximidade com produções da América do Sul, como o filme brasileiro Central do Brasil que, segundo ele, “teve uma grande influência na China”.

Como parte das premiações, foi realizado o Fórum Cultural Internacional Panda de Ouro em que foram debatidas as temáticas de cooperação, diálogo e aprendizagem mútua. O espaço contou com a participação de ex-altos funcionários da ONU, o ex-primeiro-ministro da Tailândia, Abhisit Vejjajiva, e o ex-ministro de Relações Internacionais do Egito, Nabil Fahmy.

A pianista chinesa Tian Jiaxin participou em um dos painéis do fórum, que debateu cooperação cultural entre a juventude, e afirma que espera tocar com pessoas de diferentes países, incluindo músicos brasileiros.

“A cultura sempre precisa da troca, certo? Nós podemos juntar muitas coisas diferentes e criar algo novo, pra tornar o mundo em um lugar mais pacífico e mais feliz”, diz Jiaxin.

O momento do setor audiovisual chinês

Grandes nomes chineses do cinema estiveram presentes na premiação na terra dos pandas. Entre eles os atores Jackie Chan, Guan Xiaotong e Wu Jing e o aclamado diretor Zhang Yimou.

Zhang Yongxin ganhou o prêmio de Melhor Diretor, na categoria drama televisivo, por A Era do Despertar (disponível aqui dublado em português), uma série sobre a história de como o Partido Comunista da China foi fundado em 1921.  


Era do Despertar (觉醒的时代), série lançada em 2021, que conta a história de fundação do Partido Comunista da China

A indústria cinematográfica da China vem se desenvolvendo rapidamente e está se recuperando da desaceleração durante a pandemia. A bilheteria total da China durante o verão deste ano bateu recorde, superando o equivalente a mais de R$ 13 bilhões, com produções nacionais ganhando uma proporção cada vez maior, resultado de uma trajetória nos últimos anos de incentivos fiscais e subsídios à indústria.

Entre alguns dos objetivos colocados no 14º Plano Quinquenal (2021-25), está o de que o país possua 100.000 salas até 2025 e que pelo menos 55% da bilheteria total anual seja de filmes chineses, um limite que já é comumente superado. No ano passado, por exemplo, 81% da bilheteria totalizou RMB 35 bilhões (mais de R$ 20 bi).

Em 2017, entrou em vigor a Lei de Promoção da Indústria Cinematográfica, com o objetivo de incrementar o desenvolvimento do setor em termos de tecnologia, capital, talentos e conteúdos.

As isenções de impostos sobre valor agregado e imposto comercial para empresas da indústria cinematográfica, implementadas de 2009 a 2014, também são entendidas como parte das políticas que fomentam o crescimento do setor no país. Segundo uma pesquisa publicada este ano, até 2028, o mercado cinematográfico chinês pode chegar a quase dobrar em valor.

Shuguang afirma que um exemplo do avanço da indústria na China é o filme lançado este ano, Criação dos Deuses I, o primeiro filme de uma trilogia do diretor Wuershan, e que deve ser a mais ambiciosa e cara da história do cinema chinês, com um orçamento previsto de 3 bilhões de yuans (mais de R$ 2 bi).

Para o presidente da Sociedade de Críticos de Cinema da China, o filme simboliza o avanço da indústria cinematográfica no país: “Este filme alcançou a padronização do processo em termos de técnicas de produção, acompanhando o desenvolvimento do cinema mundial. Além disso, Criação dos Deuses é uma obra épica mitológica nacional na China, ela promove a transformação criativa e o desenvolvimento inovador da fina cultura tradicional chinesa, tornando histórias tradicionais mais modernas e elevando o nível de produção de filmes de fantasia a um padrão global avançado”. 

Compreensão mútua e defesa do diálogo

A pianista Tian Jiaxin participou em um dos painéis do fórum, que debateu cooperação cultural entre a juventude, e afirma que espera tocar com pessoas de diferentes países, incluindo músicos brasileiros. 

“A cultura sempre precisa da troca, certo? Nós podemos juntar muitas coisas diferentes e criar algo novo, pra tornar o mundo em um lugar mais pacífico e mais feliz”, diz Jiaxin.

O diretor argentino Leandro Martínez teve sua obra Ahru, indicada a Melhor Animação. Ele acredita que espaços como este promovidos pela China, fora do circuito hegemônico, podem contribuir em termos de divulgação e apoio para as produções na América do Sul.

“Pra gente chegar em Hollywood, vindo da Argentina, do Uruguai ou do Brasil, é um caminho muito mais longo do que a difusão que você consegue em um evento como esse, por exemplo.

“O meu curta é um trabalho independente feito por mim mesmo, na minha casa. E de repente fui convidado e indicado a um prêmio, sem nenhum tipo de preconceito. Ou seja, não tive que fazer nenhum tipo de caminho político, de ter conhecidos no ramo ou ter sido convidado primeiro para outros festivais menores. Não. É como se por, simplesmente eles terem gostado ou achado que [o curta] realmente tem algo a dizer, tenho a oportunidade de estar aqui”, contou Martínez ao Brasil de Fato.

O outro latino-americano presente na premiação também era argentino, o ator Nahuel Pérez Biscayart, que acabou levando o prêmio de Melhor Ator do festival pelo filme Aulas de Persa, uma co-produção entre Rússia, Alemanha e Bielorússia.

Da América Latina, também foi indicado o mexicano Alejandro González Iñárritu a Melhor Diretor na categoria filmes por “Bardo, Falsa Crônica de umas Quantas Verdades”, e o colombiano César López, a Melhor trilha original pela co-produção Memoria.

Em conversa com o Brasil de Fato, após receber o prêmio, Nahuel afirmou que a característica internacional do trabalho pelo qual foi premiado coincidiu com a proposta do prêmio de “atravessar as fronteiras”. “Sou argentino e trabalhei num filme russo-alemão-bielorusso, interpretando um belga que fala francês e alemão e agora estamos aqui com um prêmio chinês. Acho que é a coisa mais bela do cinema e da arte em geral: quando as fronteiras políticas são apagadas um pouco, pelo menos por um momento parece que nos entendemos e podemos criar uma linguagem comum”.

Edição: Patrícia de Matos

Fonte: Brasil de Fato

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